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Retomada da economia se espalha pelo País

Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) mostra que, no mês de maio, todas as regiões do Brasil registraram retomada da produção industrial.

Patrícia Büll

Aumento de venda de linha branca, recorde de venda de veículos e manutenção da construção civil em níveis semelhantes aos de 2008 são alguns sinais que apontam para uma recuperação da atividade econômica neste segundo semestre. Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) mostra que, no mês de maio, todas as regiões do Brasil registraram retomada da produção industrial.

De acordo com Liana Carleial, diretora de Estudos Regionais Urbanos do Ipea, a crise afetou as regiões brasileiras de forma distinta: instalou-se inicialmente na região Sudeste e foi se disseminando pelas outras áreas do País. Já a recuperação parece seguir o caminho inverso. O que muda é a velocidade da retomada, muito influenciada pelas políticas fiscal (redução da tributação) e monetária (redução da Selic) adotadas pelo governo no início deste ano. "Essas duas medidas foram essenciais para que a economia não tivesse redução ainda mais drástica da atividade no primeiro semestre e serão responsáveis também pela retomada", completa Marcello Gonella, professor da Escola de Negócios e Direito da Universidade Anhembi-Morumbi.

Segundo o professor, embora a redução do IPI tenha efeitos imediatos, como a conservação do emprego nos setores que foram beneficiados, os cortes da Selic levam um tempo maior de maturação e seus efeitos benéficos se mostrarão mais fortemente no segundo semestre. "Acredito que teremos uma retomada da atividade por conta dessas medidas e também pela melhora do cenário internacional", afirma Gonela. Mas só isso não basta. O professor diz que é preciso acompanhar outros índices, como o que mede a confiança do consumidor, pois o governo não poderá abrir mão da arrecadação que perde com os benefícios fiscais por um período longo. "O setor privado precisará mostrar que tem fôlogo para manter o emprego e o nível da atividade", afirma.

Para o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, os resultados da pesquisa mensal do comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), divulgados na última semana, apontam para isso – o consumo se mantém em ritmo satisfatório, apoiado na manutenção da renda real, no retorno do crédito e na estabilização do mercado de trabalho.

Nem tudo são flores – Alguns setores, entretanto, continuam patinando. De janeiro a julho observou-se a diminuição das exportações brasileiras, sobretudo as de produtos industrializados, em relação a igual período do ano passado. A queda na produção industrial do Estado de São Paulo, por exemplo, foi maior do que a média nacional. "Isso se deve à maior integração da região Sudeste com o resto do mundo", afirma Rodrigo Pereira, técnico do Ipea. Isso explicaria as maiores taxas de queda na produção industrial nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo e a demora na recuperação.

Em julho, a indústria paulista teve o décimo mês seguido de queda no nível de emprego: foram fechados 3,5 mil postos de trabalho, ante 8 mil vagas eliminadas em junho. "O emprego na indústria ainda vem caindo, porém, a taxas menores do que nos primeiros meses do ano, tendendo a zero", avaliou Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação e do Centro da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), responsáveis pela pesquisa.

Apesar disso, Francini demonstra cautela na avaliação do ritmo de recuperação. "A queda nas exportações, por exemplo, tem interferência muito forte na atividade industrial." Já para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, mais do que a queda das exportações, é a redução de 22% na corrente do comércio – que é a soma das exportações e importações brasileiras – que preocupa, pois é ela que gera atividade econômica. "A corrente do comércio é mais importante até que o superávit, pois é o que realmente montra o ritmo da produção no País."

Construção civil deslancha com PAC e imóveis

Aconstrução civil nos segmentos imobiliário, de infra-estrutura e industrial teve desempenhos bastante distintos no primeiro semestre deste ano. Dos três, apenas o segmento industrial sentiu mais fortemente os reflexos da crise financeira mundial.

De acordo com Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo (SindusCon-SP), desde outubro do ano passado o setor da construção industrial interrompeu projetos de ampliação ou construção de novas plantas, cenário que só deverá mudar quando o quadro mundial demandar que as empresas voltem à produção que tinham no pré-crise.

Os setores da construção pública e imobiliária pouco sofreram. O primeiro porque o governo tem um orçamento a cumprir e as obras de infra-estrutura ligadas ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estão a todo vapor. Já o segmento imobiliário iniciou 2009 com as unidades vendidas ao longo de 2008.

Entretanto, Watanabe prevê quedas no movimento a partir de agora. "As vendas do setor imobiliário caíram mais de 50% no final do ano passado e no primeiro trimestre deste ano e isso irá impactar a construção civil no segundo semestre e início de 2010", afirma Watanabe.
A expectativa, segundo ele, é de que o programa "Minha Casa Minha Vida", voltado para o segmento popular, possa suprir o hiato deixado com as vendas voltadas para as classes média e alta.

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