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Bens não-duráveis devem se destacar

Sergio Lamucci Num momento bastante complicado para a indústria, o segmento de bens de consumo semi e não-duráveis aparece com as melhores perspectivas de crescimento nos próximos meses. Menos dependentes do crédito e da confiança do consumidor, setores como os de alimentos, bebidas, vestuário e calçados - especialmente os dois primeiros, não-duráveis - tendem a mostrar, pelo menos no primeiro semestre, um resultado melhor do que os de bens de capital, duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) e intermediários (insumos e matérias-primas). Como lembra o economista Júlio Callegari, do JP Morgan, setores como os de alimentos e bebidas dependem mais da renda, que costuma sofrer o impacto da desaceleração da economia com mais defasagem do que outros indicadores- em novembro, por exemplo, o rendimento médio dos trabalhadores ainda subiu 4% em relação ao mesmo mês de 2007, segundo números do IBGE. O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, acredita que, no primeiro semestre, apenas a produção de bens semi e não-duráveis deve registrar alta em relação ao mesmo período de 2008. Ele projeta expansão de 2% para o segmento na primeira metade do ano, com destaque para alimentos e bebidas, ao mesmo tempo em que prevê queda de 1% na fabricação de bens duráveis e de 1,5% na de bens de capital. Borges ressalta dois fatores que justificam as perspectivas mais positivas para os bens semi e não-duráveis. O primeiro é que o aumento do salário mínimo neste ano será mais robusto do que no passado. Na média de 2009, o ganho acima da inflação deve ser de 6,6% sobre o ano passado - em 2008, o reajuste real foi de 3,3%. Além disso, o novo salário mínimo entrará em vigor neste ano com um mês de antecedência em relação a 2008. Ele chegará ao bolso do trabalhador efetivamente em março. O outro ponto importante é que a inflação de alimentos em 2009 deverá ser significativamente menor do quem 2008, diz Borges. A LCA estima que o grupo alimentação e bebidas do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá 5,5% neste ano, metade dos 11% estimados para o indicador de 2008 - o número de dezembro será divulgado hoje. "Isso é especialmente importante para as pessoas de renda mais baixa, para quem a alimentação tem um peso grande no orçamento familiar", destaca ele, que acredita num desempenho melhor da produção de alimentos e bebidas neste ano. Em 2008, até novembro, esses dois setores registraram um crescimento fraco: a fabricação de alimentos cresceu 0,63% e a de bebidas, 0,27%, bem abaixo dos 4,7% da indústria geral. O economista Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados, também avalia que a expectativa é mais favorável para os bens semi e não-duráveis em 2009. "Eles tendem a ir um pouco melhor do que o resto da indústria, porque são menos dependentes de crédito", afirma ele. Mas Pereira, que também é professor da Unicamp, acredita que o segmento poderá sofrer um pouco quando a renda e o emprego forem afetados com mais força pela desaceleração, o que ocorre com algum atraso. Já a expectativa para os produtores de bens duráveis é bastante desanimadora, como diz Callegari. Com desempenho fortemente ligado ao crédito, os setores de automóveis e linha branca tendem a enfrentar dificuldades nos próximos meses. Borges considera que o segmento de duráveis vai se recuperar apenas na segunda metade do ano. A melhora deve se dar especialmente partir do quarto trimestre, favorecida também pela fraca base de comparação, já que houve um forte tombo nos três últimos meses de 2008. Ele estima que a produção de bens duráveis fechará 2009 com alta de 3,1%, superior aos 2,3% esperados para a fabricação de semi e não-duráveis, que deve ter um comportamento mais homogêneo ao longo do ano. A produção de bens de capital também deve ser castigada na primeira metade do ano. Pereira lembra que muitas empresas estão cortando planos de investimento, o que vai levar à diminuição da demanda por máquinas e equipamentos. No segundo semestre, é possível que haja uma recuperação mais firme, a exemplo do que pode ocorrer com a fabricação de bens duráveis. Fornecedor de insumos para o resto da economia, o segmento de bens intermediários deverá ter um primeiro semestre fraco. Há, contudo, alguns fatores que podem ajudar o setor. Um deles é a perspectiva de crescimento mais forte da extração de petróleo e gás em 2009, como nota Borges. Pereira, por sua vez, destaca que a desvalorização do câmbio poderá levar algumas empresas a aumentar a procura por bens intermediários domésticos, já que os importados ficaram bem mais caros com o dólar na casa de R$ 2,30.

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